A doença de Alzheimer (DA) é conhecida como uma doença degenerativa e progressiva que vai destruindo lentamente a memória e outras habilidades cognitivas, o que limita, com o tempo, a capacidade de realizar tarefas simples, principalmente por pessoas acima de 60 anos. A origem da DA ainda não é totalmente esclarecida, mas sabe-se que a doença está relacionada à múltiplos fatores cerebrais, incluindo, o ambiente cerebral favorável a oxidação de biomoléculas, deposição de placas amilóides (proteínas anormais e insolúveis) e emaranhados neurofibrilares de uma proteína com defeito e não funcional, denominada de Tau. Curiosamente, ao contrário do que pensava a DA não é só uma doença do sistema nervoso central, é uma doença sistêmica que atinge outros órgãos e sistemas distantes do cérebro. Devido a sua complexidade, nenhum medicamento tem se mostrado eficaz que leve a cura da doença, embora tenha permitido uma redução da progressão e maior sobrevida dos portadores dessa doença. Porém, de modo mais animador, tem-se observado que a prática regular de exercícios físicos impacta positivamente sobre vários aspectos relacionados fisiopatologia da DA mencionados acima e que contribui para uma sobrevida com melhor qualidade.
Embora vários artigos tenham sido publicados sobre os benefícios exercício físico no desenvolvimento da DA, seus efeitos periféricos não foram discutidos em detalhes. Dessa forma, inúmeras questões emergem, levando cientistas se debruçarem em perguntas como: 1) os efeitos benéficos do exercício regular na DA decorem de efeitos sistêmicos do exercício e não apenas aos efeitos do exercício no cérebro? 2) o nível de aptidão dos órgãos periféricos pode influenciar direta ou indiretamente sobre a incidência ou a progressão da DA? 3) Existe um melhor tipo de exercício físico para pacientes com DA? Essas perguntas, ainda sem repostas conclusivas, nos motivaram a escrever um artigo recentemente publicado (Antioxidants 2022, 11, 1028. https://doi.org/10.3390/antiox11051028) onde revisitamos vários estudos recentes, experimentais e clínicos, com o objetivo de verificar os efeitos sistêmicos do exercício regular na DA e apontar como a resposta adaptativa ao exercício regular sobre órgãos periféricos pode diminuir a incidência de DA ou atenuar a progressão da doença.
Os resultados observados nesse artigo mostraram que o exercício físico ao longo do tempo tem um efeito preventivo sobre os órgãos debilitantes e que isso está associado a uma redução na progressão de DA. Embora não se saiba como o envolvimento de diferentes órgãos na patologia da DA afeta o progresso da neurodegeneração, sugerimos aqui que a natureza sistêmica do exercício é uma das principais razões pelas quais o exercício é uma das ferramentas naturais mais poderosas para combater a DA.
Por Ricardo A. Pinho, PhD
PPGCS/Escola de Ciências da Vida e Medicina/PUCPR
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