Ao longo dos últimos 23 anos, eu e meu grupo temos nos dedicado a investigar o papel do exercÃcio nas doenças crônicas, conforme documentado (ver https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/?term=pinho+ra&sort=date). Os resultados desses trabalhos têm reforçado a ideia, também defendida por muitos outros pesquisadores, de que os efeitos do exercÃcio são tão eficazes no tratamento quanto na prevenção de doenças diversas, e, em particular, na resiliência fisiológica para enfrentar os desafios das doenças crônicas. Isso quer dizer que incorporar o exercÃcio fÃsico na rotina diária é fundamental para preparar os indivÃduos para lidar com os desafios fisiológicos associados à s doenças crônicas.
Os benefÃcios observados são amplos e abrangem diferentes aspectos da saúde. Um dos efeitos significativos do exercÃcio é a melhoria da saúde metabólica. O exercÃcio regular tem sido associado ao aprimoramento da sensibilidade à insulina, à regulação do metabolismo da glicose e à influência positiva nos perfis lipÃdicos. Esses efeitos têm um impacto direto na prevenção e controle de distúrbios metabólicos, como obesidade e diabetes, contribuindo para a redução do risco e da gravidade dessas doenças. No contexto das doenças cardiovasculares e vasculares, o exercÃcio tem se mostrado eficaz na redução da pressão arterial, na melhoria da função endotelial e na promoção de um funcionamento saudável dos vasos sanguÃneos. Esses benefÃcios são cruciais para manter a integridade dos vasos e reduzir o risco de complicações cardiovasculares. Além disso, o exercÃcio desempenha um papel significativo na redução dos efeitos colaterais do tratamento de diferentes tipos de câncer. A prática regular de exercÃcios pode mitigar os déficits cognitivos e a fadiga relacionada ao câncer, além de melhorar a função imunológica e fortalecer o organismo contra os efeitos colaterais dos tratamentos. Não menos importante, as intervenções de exercÃcio voltadas para o fortalecimento muscular têm apresentado resultados imprescindÃveis para a manutenção da independência fÃsica durante o tratamento de doenças e na qualidade de vida geral. O exercÃcio resistido, por exemplo, estimula o ganho de massa muscular, melhora a força e a capacidade funcional, além de auxiliar na prevenção da perda muscular relacionada ao tempo de internamento bem como ao envelhecimento.
Além dos benefÃcios do exercÃcio fÃsico por si só, é importante ressaltar o papel sinérgico que ele desempenha em associação ao uso de medicamentos no tratamento de doenças crônicas. Estudos, incluindo os nossos, têm demonstrado que a combinação de exercÃcio regular com terapias farmacológicas pode potencializar os efeitos positivos e melhorar os desfechos clÃnicos. Por exemplo, em doenças cardiovasculares, a prática de exercÃcios pode otimizar a resposta ao tratamento com medicamentos anti-hipertensivos, resultando em uma maior redução da pressão arterial. Da mesma forma, em doenças metabólicas, como diabetes tipo 2 e nefropatia, a combinação de exercÃcios com medicamentos hipoglicemiantes pode levar a um melhor controle glicêmico e à redução da necessidade de doses elevadas de medicamentos. Portanto, o exercÃcio fÃsico não deve ser visto como uma alternativa isolada, mas sim como uma terapia complementar que pode potencializar os efeitos dos medicamentos e proporcionar benefÃcios adicionais aos indivÃduos que enfrentam doenças crônicas.
Em conclusão, a incorporação de exercÃcios regulares na fase pré-tratamento é uma estratégia fundamental para construir uma base sólida de força muscular e fortalecimento dos sistemas fisiológicos como um todo. Essa base fortalece os indivÃduos, tornando-os mais resilientes para enfrentar os desafios impostos pelas doenças crônicas. Esses efeitos podem promover melhor gerenciamento das doenças crônicas e potencialmente melhorar os resultados do tratamento. É importante destacar que a escolha do tipo de exercÃcio, sua duração e frequência devem ser individualizadas, levando em consideração as caracterÃsticas especÃficas de cada doença e as condições de saúde de cada indivÃduo. Para tanto, é necessário ter anuência do seu médico e consultar um profissional especializado como um profissional de educação fÃsica, médico do esporte ou um fisioterapeuta, para obter uma prescrição e orientações adequadas e seguras. Portanto, incentivar a incorporação de exercÃcios na rotina diária, de forma personalizada e supervisionada, é essencial para fortalecer a capacidade do organismo em enfrentar os desafios impostos pelas doenças crônicas, melhorar a qualidade de vida e potencializar os resultados do tratamento.
Por Ricardo A. Pinho, PhD
PPGCS/Escola de Medicina e Ciências da Vida/PUCPR