Possivelmente você já deve ter visto ou ouvido algum anúncio ou comentário sobre radicais livres (RL) ou espécies reativas de oxigênio (ERO). Esses termos têm sido negativamente pulverizados na mídia para promover a venda de diversos produtos, especialmente cosméticos e suplementos alimentares. RL e/ou ERO são moléculas que produzimos em nosso organismo por estímulos intrínsecos ou quando estamos expostos a um ambiente adverso (sol excessivo, poluição) ou ainda quando ingerimos substâncias tóxicas (cigarro, álcool, agrotóxicos) ou alimentos não recomendados para nossa saúde (excesso de açúcares, frituras, gorduras saturadas, etc). Em quantidades adequadas, os RL/ERO exercem importantes ações em nossas células como o combate à agentes nocivos, ativação e síntese de diferentes proteínas entre outras funções importantes. Ao contrário, quantidades excessivas levam à importantes mudanças celulares que promovem danos nas estruturas de proteínas, lipídeos e ácidos nucleicos. Dessa forma, a quantidade de RL/ERO disponíveis no nosso organismo é o que determinada o papel positivo ou negativo (bom ou ruim) que elas exercem.
O equilíbrio na produção dessas substâncias é controlado por outras moléculas chamadas de antioxidantes, as quais possuem, justamente, a função de impedir que os excessos desses RL/ERO possam prejudicar nosso organismo. Esse desiquilíbrio na produção dessas moléculas (mais RL/ERO do que antioxidantes) leva o ambiente celular a um estado de elevada oxidação e compromete a função normal das células. Esse processo chamamos de estresse oxidativo que está diretamente relacionado com o envelhecimento acelerado e o aparecimento e desenvolvimento de doenças como as doenças metabólicas, degenerativas e imunológicas e outras. Vale ressaltar que o inverso também é desastroso ao nosso organismo (mais antioxidantes do que RL/ERO) em que o ambiente celular fica em um estado mais “reduzido” do que o necessário e isso dificulta também o funcionamento adequado das células. É preciso, portanto, um equilíbrio (chamado de equilíbrio redox) entre essas substâncias e, em certas situações, uma quantidade um pouco maior de RL/ERO para que as células tenham estímulos de adaptação, processo conhecido como (eu)estresse. Nesse cenário, os antioxidantes são elementos-chave, pois são eles os responsáveis em manter um ambiente celular mais saudável. Os antioxidantes são um conjunto de moléculas produzidas pelo nosso organismo por diferentes estímulos ou são adquiridas através de produtos ou alimentos ricos em vitaminas, minerais e outras substâncias capazes de exercer esse papel antioxidante.
Uma das importantes formas de aumentar a capacidade antioxidante das células é através do exercício físico. Muitos estudos, ao longo dos últimos 30 anos, têm mostrado que realizar exercícios físicos regularmente aumenta a capacidade dos tecidos em combater o excesso de RL/ERO e com isso contribuir na prevenção e tratamento de muitas doenças. Nosso grupo, por exemplo, tem publicado inúmeros estudos que mostram que a prática regular de exercícios é capaz, entre outras funções, reduzir os danos oxidativos pulmonares, cardiovasculares, musculares e cerebrais por aumentar o sistema de defesa antioxidante em doenças como DPOC, obesidade, esclerose múltipla, Parkinson, infarto ou no próprio envelhecimento. Por fim, praticar exercícios físicos é uma forma eficaz, barata e segura de promover sua saúde.
Por Ricardo A. Pinho, PhD
PPGCS/Escola de Medicina/PUCPR
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